Todo o tempo em que estou acordada, basicamente se não estou no trabalho estou com meus filhos. Não tem feriado, sábado, domingo, turno... Vida de mãe é tempo integral e levo isso bem a sério. Poucas vezes reservo tempo para mim, o que não quer dizer que eu esteja certo, somente que é assim.Amo estar com meus filhos mais do que qualquer outra coisa e tenho como privilégio meu presenciar momentos tão importantes na vidinha deles, como o primeiro choro, o primeiro sorriso, o primeiro passo, primeiro tombo. Tenho até a ilusão de que passo tempo suficiente com eles. Mas não é verdade. Essas horas que passo no trabalho, que perco no supermercado e na manicura me são caríssimas. A velocidade com que as novidades se mostram no mundo deles é muito maior do que consigo acompanhar. E entre uma pequena ausência e outra acabo por já não ser a primeira a compartilhar com eles suas descobertas.No último final de semana ficou em casa como babá uma das “tias” da escolinha deles, a Anne. Meu irmão, minha cunhada e minhas sobrinhas vieram nos visitar. De repente, do nada, Anne olha para eles e fala: “Agora vamos cantar Cai Cai balão”...”Cai, cai, balão, cai, cai, balão, aqui na minha mão”....Imediatamente Lala e Santi começaram a balbuciar algumas palavras enquanto apontavam com o dedinho da mão direita para a palma da mão esquerda quando ela falava “aqui na minha mão”...Em seguida veio com outra música: “Tralalá, tralalá. Tralalá...hey!” e Lala e Santi viravam as mãozinhas para cima e no “hey” jogavam os dois bracinhos para o alto! Lindo!! Quanto talento musical, quanta habilidade motora, que engraçadinhos....Todo mundo ficou encantado, enquanto eu me perguntava: “Como eu não sabia que eles cantavam ‘ cai, cai balão?” Porque nunca cantei essa música com eles? Quando eles aprenderam? Olhava para Anne com cara de pasma. “Nossa Anne, não sabia que eles cantavam essas músicas...”, disse com um misto de felicidade, orgulho e ciúmes, por me sentir um pouco excluída.Outro dia os dois começaram a dançar na minha frente e girar e imediatamente desconfiei que tivessem aprendido aquilo na escola. E me dou conta, neste exato momento, de que tenho que me conformar e aceitar de que como mãe não estarei presente em vários acontecimentos, descobertas e aprendizados dos meus filhos. E como mãe não preciso estar. E que, por ser mãe, eles tratarão de me excluir de vários eventos, pois “ninguém vai levar a mãe né mãe!! Que mico!!”, falarão para minha tristeza.Tenho que aceitar que muita coisa que acontecer daqui para frente só saberei depois e tenho até que ficar feliz e aliviada se vier a saber depois. Eles já não são aqueles serzinhos que mal se mexem no berço. Eles já não são aqueles dois bebezinhos que só vêem em preto e branco. Eles já não precisam de mim para arrotar, dormir, mamar, andar... Logo não precisaram de mim para trocar as fraldas, tomar banho, comer, viajar. Um dia não precisarão de mim para quase nada e ficarão até bravos quando me virem acordada de madrugada até que cheguem da balada. “Poxa mãe, porque não foi dormir?”.Duas coisas eu aprendi agora que meus filhos estão com 1 ano:1) nem sempre eu serei a primeira.2) nem sempre serei necessária.Enquanto estou aqui me esforçando para assimilar essas duas dolorosas lições eles já devem ter aprendido mais umas duas músicas, uma dança, quatro palavras...e eu já nem me lembro o que escrevi no começo desse texto.
(2005)
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